25.9.09

Quente

Era alguma segunda ou quarta-feira durante as férias de meados da década de oitenta. Uma preguiça persistente exauria as forças, garganta arranhando um tanto apenas a ponto de incomodar. Fundo sonoro: péim-péim de construção no terreno vizinho, misturada à música quase inaudível da abertura da sessão da tarde e ao som do ventilador que espalhava o ar abafado do quarto. "Estou sentindo um quente", comentei com meus irmãos. Não conhecia nenhuma palavra pra definir o que estava sentindo e denominei aquilo de "um quente". Pegou. Até hoje usamos a palavra"quente" pra definir um sentimento que tem a ver com indolência e mau humor ou com uma leve angústia por estar fazendo ou ter que fazer uma coisa que não se quer e que, contraditoriamente, tem algo de cômico. Sentir quente de uma coisa não significa necessariamente que você não goste dela. É algo que ainda não consegui explicar. Exemplificar fica meio difícil, porque cada um sente quente por motivos diferentes. De qualquer modo, minha irmã propôs a mim e ao meu irmão que listássemos algumas coisas que nos dão quente. Eis o resultado parcial:

Ir ao Detran (em geral, ter que resolver qualquer coisa em repartição pública)
Fortal
Foto 3x4
Ir pra FashionRio provar farda do colégio. *FashioRio era (é?) a loja que vendia a maioria das fardas de colégios em Fortaleza. A visita à loja era sinal de que as férias estavam acabando. Meu irmão desenterrou essa.
As vozes: Galvão Bueno, João Inácio Jr., Samantha Marques e locutor da rádio 100
Alguns ex-colegas de trabalho
Kenny G, Air Suply, a música Hotel California
MPB ao vivo em barzinho tocada em teclado
Aquele parente chato que a mãe obrigava a visitar
Xuxa, Mara Maravilha, a música de abertura do Supercine, Rota 22, Barra Pesada, Gugu Liberato, Zorra total e os insuperáveis Domingão do Faustão e o antigo programa do finado Irapuã Lima, Chapolim, Sessão da tarde
Fórmula 1
Kolene, sabonetes Phebo e Senador
Forçação de barra com dinâmica de grupo.

5 comentários:

  1. Você já listou muitas das minhas coisas...completando:

    Programa Silvio Santos (quente e não gosto mesmo)
    revista de fofoca em sala de espera
    novela mexicana
    música sertaneja

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  2. Será que vocês deixaram alguma coisa pra mim????
    rsrs
    Adorei!
    Dani

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Quente mesmo era quando faltava água ou energia por mais de 1 dia. Hoje é pouco comum, mas lá por 84 e 85 era.

    Quente também era a vontade de ter um Forte Apache! Pobrezinhos dos índios.

    Quente, muito quente era pegar o último ônibus de domingo para voltar para casa. Ou o último ônibus de qualquer dia.. é isso existia sim até 92 era quase universal(eram linhas de ônibus sem integração).

    Icaraí era quente. Lagoa do Opaia ídem.

    Ir pro Roncy em dia de pagamento! Isso dava muito quente, muito... lá por 83 os preços mudavam todo dia e não podíamos perder uma hora sequer, recebeu correu para comprar a feira e esperar até 2,5 horas para conseguir pagar... as filas chegavam a ter 15 carrinhos cheios... e as máquinas antigas não liam código de barra... era no somatório de preço por preço... puxa, até hoje dá um quente quando eu lembro do terror!

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  5. Kkkkkkkkkk caramba!Falta de energia até que não me dava muito quente não... mas água... ai! muuuito quente. Icaraí até hoje me dá quente, mas o Romcy... melhor se enfiar num balde de gelo. Muuito quente!

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